por onde fica a primavera

A viola braguesa é um dos mais fascinantes cordofones tradicionais portugueses. Aqui é imaginada e metamorfoseada em narradora – intrépida, pungente e terna – de uma tradição ancestral, que nos chega não pela oralidade, essa há muito interrompida, mas por um fluxo imaginativo contínuo que desaguou nos nossos corpos.

João Diogo Leitão

a história deste álbum, do meu primeiro álbum, é o emaranhado confuso de muitas histórias. um possível início dessa história seria em évora, há mais de 10 anos, quando para lá me mudei para estudar guitarra clássica.

depois foram-se mudando as vontades, desenvolveu-se uma inquietação, uma sensação de incompletude, uma necessidade de partir e acabei por viajar compulsivamente. a viola braguesa surgiu de forma inevitável, quase fatalmente, e com ela deambulei por meia europa à boleia para resgatar uma liberdade perdida.

o fascínio pelas suas características tímbricas e o potencial inexplorado deste instrumento desencadearam uma metamorfose. provocaram uma urgência poética que me levou a investigar e compor música para esta viola, que surge do natural encontro entre os mundos da música erudita e música tradicional portuguesa.

esta história encerra-se a si mesma onde começou, no alentejo. agora em serpa, no início de 2020, onde fui recebido no Musibéria e onde a busca por um universo poético se materializou neste álbum.

um álbum que conta uma outra história.

ou talvez seja a mesma.

a braguesa como a harpa do contador de histórias, a voz de uma mitologia perdida, a narradora de contos, pensamentos, memórias e sonhos de um herói antigo que partiu numa viagem em busca da libertação, da sabedoria, da transcendência, do Tempo.

uma história onde somos herdeiros, a braguesa e eu, de uma tradição ancestral, que nos chega não pela tradição oral, essa perdida há muito, mas por um fluxo imaginativo contínuo que desaguou nos nossos corpos. agora a história é vossa.

Oiçam-na. Partilhem-na. Acariciem-na.

 

Ficha técnica

 
  • “Por onde fica a primavera” álbum criado e produzido, entre janeiro e setembro de 2020, no centro Musibéria
  • Composições e Interpretação (Viola Braguesa): João Diogo Leitão
  • Gravação e Mistura: André Espada, no Estúdio de Som Musibéria
  • Masterização: Suse Ribeiro, nos Estúdios Valentim de Carvalho
  • Fotografia e Design: André Brandão
  • Editora: Respirar de Ouvido
  • Publicado em outubro de 2020
  • Apoio Institucional: Município de Serpa, Direção Regional de Cultura do Alentejo e Antena 2
  • Violas braguesas construídas por Diogo Valente Santos (faixas 1 a 4 e 7 a 9) e Artimúsica (faixas 5 e 6)

Um agradecimento aos herdeiros do José Afonso, em especial ao João Afonso.